segunda-feira, outubro 13, 2008

Das coisas boas e de onde encontrá-las.


Serendipity é uma palavra de tradução difícil.

Significa, mais ou menos, a capacidade de descobrir coisas boas por acaso.

E foi assim.

Muito ao acaso, porque ela estava em um lugar tão cheio de distrações.
Porque estava vestida como não costuma (e que, ela sabe, não é para mim a roupa que lhe cai melhor...).
Porque me percebeu quando eu estava louca e desbundada, mas me concedeu o tempo da desconstrução.
Porque me concedeu tempo.
Porque tudo que nos cercava tendia a levar-nos para lugares diferentes.

Mas estava no exato ponto, onde o tempo e o espaço se encontram, para que eu a descobrisse.

E agora, ela mora na saudade boa, de quem viveu coisas intensas e que sabe que vai se encontrar dentro em pouco.

Onde antes tudo apontava, indicava; onde antes, morava serendipity.

sexta-feira, setembro 19, 2008

Soneto 15º


Sobre estas duras, cavernosas fragas,
Que o marinho furor vai carcomendo,
Me estão negras paixões n'alma fervendo
Como fervem no pego as crespas vagas.

Razão feroz, o coração me indagas,
De meus erros e sombra esclarecendo,
E vás nele (ai de mim!) palpando, e vendo
De agudas ânsias venenosas chagas.

Cego a meus males, surdo a teu reclamo,
Mil objectos de horror co'a ideia eu corro,
Solto gemidos, lágrimas derramo.

Razão, de que me serve o teu socorro?
Mandas-me não amar, eu ardo, eu amo;
Dizes-me que sossegue: eu peno, eu morro.

(Manuel Maria Barbosa du Bocage)

quinta-feira, setembro 04, 2008

Esparsas I


As coisas que vemos e vivemos não podem ser reais.

Somos parte de uma grande MATRIX mesmo, ou então, tudo se explode e não sobra nada.

Não querendo Smithsear, mas já fazendo, if it´s not love, then is the bomb that will bring us together.

Escrevo hoje sem inspiração, porque uma amiga reclamou de saudades (do blog e minhas, espero!). Mas a sensação é essa mesmo...

De que não há amanhã, futuro, todas essas coisas que a gente bota no depois e se decepciona porque não acontecem.

E que todos vivem sem amanhã; hoje é o último dia, a última vez, o mundo se acaba e ninguém responde por nada.

Responsabilidades.

domingo, junho 15, 2008

How can you mend a broken heart?


Can think of younger days when living for my life
Was everything a man could want to do.
I could never see tomorrow, but I was never told about the sorrow.

And how can you mend a broken heart?
How can you stop the rain from falling down?
How can you stop the sun from shining?
What makes the world go round?
How can you mend a this broken man?
How can a loser ever win?
Please help me mend my broken heart and let me live again.

I can still feel the breeze that rustles through the trees
And misty memories of days gone by
We could never see tomorrow, no one said a word about the sorrow.

And how can you mend a broken heart?
How can you stop the rain from falling down?
How can you stop the sun from shining?
What makes the world go round?
How can you mend this broken man?
How can a loser ever win?
Please help me mend my broken heart and let me live again.

BEE GEES

domingo, junho 01, 2008

De juntar-se


Estou espalhada como brinquedos num quarto de menino.

Espalhada, como estão minhas roupas, meus livros, meus papéis.

Espalhada é pior: tudo me dói aos pedaços.

Dedico-me, então,`a hercúlea tarefa de juntar-me em ser, em todo.

De alcançar-me, içar-me dos cantos onde estou: detrás do armário, debaixo da cama, sobre o tapete, do meio do mundo.

Enquanto descubro retalhos; esses, novos, intocados; estendo-me, elástica, infinita, com uma fome de dez mil anos, fome de praga bíblica, na coleta do que, penso, sou, ou ainda, virei a ser ao me compor em inteiro.

Despeço-me, com dor, é claro, dos pedaços apêndices,  com função ancestral porém extinta, por não sobreviver ao darwinismo implacável do meu correr de vida.

E é nesse procurar por mim que também me perco, me despertenço e fico presa em frestas, em sombras; desapareço em lascas no sumidouro natural que as vidas bagunçadas permanentemente possuem.

Palavras como integral, completude, existem, mas em bocados, nos pedaços que conheço e que estão visíveis; pedaços que uso para pensar, funcionar, e talvez, naqueles que uso para sonhar algum futuro.

São Paulo, 1 de Junho de 2008.


quarta-feira, maio 28, 2008

O uso, o desuso e o mau uso.


A quase tudo se perdoa no outro (pelo menos do ponto de vista de cá do teclado).

Há uma exceção, sempre ela: covardia.

Costumo lidar bem com defeitos alheios, melhor do que com os meus incontáveis.


Mas a covardia me destrói.


Dizer que segue ordens.

Tirar o seu da reta.

Tentar sair de bonito.

Chutar o cara caído.

Aproveitar-se do ponto fraco.

Profanar o que lhe foi entregue de sagrado.


Não assumir as escolhas, as burradas, as maldades, a vida.


Como diz a Calcanhotto, eu não gosto do bom gosto, do bom senso, dos bons modos, não gosto. Gosto de todo o resto, o que não gosto, tolero.

Covardia, não.

Não há perdão.

sexta-feira, maio 09, 2008

Under my umbrella...


MEU GUARDA CHUVA


Mas quando eu comecei a gostar de você
Você me abandonou
Agora chorar que é bom
Chorar que eu quero ver
Vai começar a chover
Só eu tenho o guarda chuva
Adivinha quem vai se molhar
Quem vai se molhar é você
Também pode chorar que eu não volto atrás
Pois no meu guarda chuva não te levo mais


(Funk Como Le Gusta)

quarta-feira, abril 23, 2008

Chegança.


Sexta-feira, dia 18, nasceu minha sobrinha Flora.

Ela chega num mundo de Isabella Nardoni, de Iraque, de re-eleição de Berlusconi.

Mas também num mundo de tios, vovós, vovô, papai e mamãe. De gente que já a esperava e amava. De gente curiosa pra olhar o rostinho dela e dizer: benvinda, mocinha.

E benvinda mesmo.

Benvinda a este mundo doido, que você vai demorar pra entender.

Benvinda a essa terra Brasil, que é sua e de mais 200 milhões, que compartilharão da sua vida, dos seus sonhos.

Benvinda, moça, à essa vida confusa e maravilhosa, e à essa gente grande e estranha, com a qual você vai dividir o melhor e o pior.

Benvinda, é o que a tia te diz e (espera) o resumo de toda a sua vida.

Mocinha, você é bem chegada.


PS: O papai Otávio pediu pra não colocar a foto da Florinha na rede. Eu respeito.

terça-feira, março 18, 2008

My Name Is Evelyn.


Karma sempre foi um conceito misterioso para mim.

Não possuo a simplicidade budista ou a complexidade kardecista para entendê-lo.

Com meu cérebro racional de filha de Seu André (o físico!), recorri ao amigo Newton: chutei a pedra e doeu meu dedo.

E assim, ficou fácil.

Como o red neck Earl (blogfriends sem tv a cabo, o Google está aí pra isso mesmo...), aprendi sobre o karma na marra, na topada.

Briguei com chefe, o chefe me mandou embora.
Não prestei atenção na mulher, a mulher partiu.
Não olhei pra minha vida, ih, ó, a vida se desmilinguindo...

Aprendi que coisa boa traz karma bom. Que estar bem, também traz.

E que nosso amigo Talião, o do olho por olho, deixou todo mundo cego porque não percebeu a profundidade da justiça intrínseca ao conceito de karma.

Esse mundão de Deus vai girando e as respostas vão se apresentando diante de nós, tudo é questão de audição, visão, tato, olfato, paladar...

Questão de sentido.

E quando penso na palavra sentido, ou, para ser mais clichê, no sentido da vida, o que me ocorre é justamente isso: deixá-la passar por mim, através de mim, pelos sentidos.

E que venha o karma, que o que a vida me trouxer, será devolvido em sentido contrário e igual intensidade.

PS: Momento Zen-Evelyn. Aproveitem!

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Trainwreck.


Hoje eu acordei com o barulho da minha vida entrando nos eixos...

Estava com saudades da vida como ela era, e acho bonito que ela faça barulho ao voltar pro lugar; que me acorde, me movimente, me deixe em estado de atenção.

Eu sou (sempre serei? bom? ruim?) um trem descarrilhado, como o maravilhoso Walt Whitman (há um post de 2006 falando sobre isso, quem tiver paciência...); uma chutadora de portas.

Às vezes, me esqueço. Me canso, me sento, me acomodo, saio de mim e me des-sou, me des-existo.

Maria Fumaça, sem fogo, sem lenha.

Mas hoje, não.

Hoje sou um TGV, sou um trem-bala japonês, com quarenta mil cavalos de potência, com infinitas estações pela frente e nenhuma parada!

Na verdade, hoje eu acordei com o barulho da minha vida saindo dos eixos.

E avançando, descarrilhada, como eu sou e como deve ser.


"I celebrate myself;
And what I assume you shall assume;
For every atom belonging to me, as good belongs to you."


Walt Whitman, Song of Myself.


quarta-feira, fevereiro 20, 2008

Do me good...


Minha nova paixão é uma moça que se chama Amy Winehouse. É uma judia inglesa com voz de negona americana, que me faz gastar todos os politicamente incorretos que conheço.

Seu álbum, BACK TO BLACK, ganhador de 5 Grammy, está derretendo o meu Ipod. Não consigo parar de ouvir.

Absolutamente heterossexual, ela escreve pra um babaca que fica alternando entre ela e a ex.

Soube, depois, que esse babaca virou marido, mas agora não é mais.

Choro direto, com o bom humor, com o mau humor, com os trocadilhos e com essa verdade cáustica que ela derrama sobre nós, na melhor coisa que aconteceu na música pop nos últimos 10 anos.

Como ela, when you´re back to her, I´m back to us, I´m back to black...

quinta-feira, janeiro 03, 2008

Meu fado.


Honrando minha alma portuguesa, que às vezes me dói, magoada; às vezes voa, se entrelaça no vento; às vezes quer tudo e às vezes quer não ser... Um fado.


Malmequer
(Mariza)

Mal me quer a solidão
Bem me quer a tempestade
Mal me quer a ilusão
Bem me quer a liberdade

Mal me quer a voz vazia
Bem me quer o corpo quente
Mal me quer a alma fria
Bem me quer o sol nascente

Mal me quer a casa escura
Bem me quer o céu aberto
Bem me quer o mar incerto
Mal me quer a terra impura

Mal me quer a solidão
Entre o fogo e a madrugada
Mal me quer ou bem me quer
Muito, pouco, tudo ou nada...