Estou espalhada como brinquedos num quarto de menino.
Espalhada, como estão minhas roupas, meus livros, meus papéis.
Espalhada é pior: tudo me dói aos pedaços.
Dedico-me, então,`a hercúlea tarefa de juntar-me em ser, em todo.
De alcançar-me, içar-me dos cantos onde estou: detrás do armário, debaixo da cama, sobre o tapete, do meio do mundo.
Enquanto descubro retalhos; esses, novos, intocados; estendo-me, elástica, infinita, com uma fome de dez mil anos, fome de praga bíblica, na coleta do que, penso, sou, ou ainda, virei a ser ao me compor em inteiro.
Despeço-me, com dor, é claro, dos pedaços apêndices, com função ancestral porém extinta, por não sobreviver ao darwinismo implacável do meu correr de vida.
E é nesse procurar por mim que também me perco, me despertenço e fico presa em frestas, em sombras; desapareço em lascas no sumidouro natural que as vidas bagunçadas permanentemente possuem.
Palavras como integral, completude, existem, mas em bocados, nos pedaços que conheço e que estão visíveis; pedaços que uso para pensar, funcionar, e talvez, naqueles que uso para sonhar algum futuro.
São Paulo, 1 de Junho de 2008.
4 comentários:
Saudações! não sei o que dizer...mas gostei de saber que vc é dessas pessoas que escrevem, e pensam também no que há além do proprio corpo...Que com palavras se transportam e viajam as distâncias mais inimaginaveis e que também costuram com as palavras seus pedaços perdidos...Um grande abraço! agnt se v por ai! obs: parabéns por ser titia! eu também sou, mas vou ser mais ainda quando Ayla nascer em Julho!
(ryan/uff)
olá.
texto bonito esse hein.
não só com relação as palavras, as imagens, mas o que mais me chamou a atenção foi a estrutura sintática de algumas sentenças.
nada melhor do que uma boa idéia e um tratamento estético foda dessa idéia.
bem legal.
quando tiver tempo, passa lá no meu blog. fica logo ali, depois da banca de jornal, rsrsrs:
http://controle-sejaforte.blogspot.com/
té.
lindo, lindo...
clap clap clap!
=)
do caralho, evelyn!!! ainda bem que é possível remendarmos nossos espíritos, ainda que dolorosa, assim é a evolução...
gosto dessa perspectiva das palavras, do dialogo que elas nos possibilitam, aos poucos e absolutamente. um beijo, linda! daya
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