sexta-feira, julho 09, 2010
Sobre cães e monstros.
Todos buscam a inexplicável explicação para o caso Eliza.
Alguns acusam a vítima; natural, diante da misoginia social na qual estamos imersos. Outros acusam o abandono familiar, a miséria infantil, o dinheiro rápido, a fama, a certeza da impunidade.
Mas ninguém acusa o monstro.
O monstro não precisa de traumas de infância, nem motivação monetária. O monstro não tem remorso, compaixão, empatia.
O monstro olha pra tudo, sereno, e ainda diz que vai rir disso.
O monstro entende que o descanso último de uma vítima assassinada é a boca de um cão feroz, adestrado pra matar e mutilar. Que seus ossos têm que ser incinerados. Que seus restos, concretados.
O monstro se pensa superior aos outros mortais. (Também, pudera, nós o colocamos neste patamar...)
O monstro está debaixo de nossas camas, na casa ao lado, no gol de um popular time de futebol.
Não criamos o monstro, ele nasce criado. Mas o alimentamos.
Damos a ele nossa admiração quando se cerca de mulheres bonitas.
Nosso sorriso malandro quando pega uma arma e atira pra cima numa boate da Barra.
Nossa silenciosa aprovação quando agride prostitutas em uma orgia promovida por ele.
Nossa risada mais aberta à piada de que todo homem já bateu em mulher.
E agora, como coroamento da sobremesa, como cereja do bolo, damos a ele a certeza de que Eliza merecia tudo o que sofreu.
A todos nós, adestrados como cães, pra matar e mutilar nossos iguais, literal e metafóricamente: se cada um de nós trouxe um pedaço da bomba, porque nos surpreendemos com a explosão?
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2 comentários:
Aêeeeeeeeeee! Até que enfim uma atualização! E digna de aplausos...ou seria de silêncio moral?
Saudade,
bjo
É por essas e outras que o Coliseu de
Roma fazia tanto sucesso na época...
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