segunda-feira, setembro 11, 2006

Encaixotando ShoeMate


Fui à locadora ontem, em mais uma vã tentativa de alugar "O pla

Fui à locadora ontem, em mais uma vã tentativa de alugar "O plano perfeito" do Spike Lee; obviamente, nenhuma das 24 cópias estava disponível. Aluguei "Desejos Proibidos" no lugar, um filme que faz a minha militância se contorcer, por vários aspectos!

O título original desse filme é "If these walls could talk 2" (algo como "se essas paredes falassem"...). Isso porque a idéia central do filme produzido pela HBO (e do primeiro, que tratava do direito ao aborto) é que três histórias com a mesma temática (neste caso, o lesbianismo) se desenvolvam em épocas diferentes na mesma casa. Mas foi traduzido como "Desejos Proibidos"!!!!!!!!!!!!!!!!! Meu Deus, em 2000!!!!!!!

A primeira história se passa em 1961 e é protagonizada pela maravilhosa Vanessa Redgrave. Mesmo o elenco coadjuvante do filme arrasa: Paul Giamatti, Elizabeth Perkins... OK, duas velhinhas moram juntas há 30 anos, uma delas tem um derrame e o mundo todo trata a metade restante do casal como NADA. Sem direito à visitas no hospital, à informação do falecimento, à preparação do funeral, à casa comprada com a companheira. Em 2006, ainda estamos lutando na câmara dos deputados por um registro de união civil. Vamos combinar, mensalão pode; casamento, não.

A última se passa em 2000. O casal Sharon Stone, gostosíssima, e a same old Ellen DeGeneres, quer ter um filho. Amigos gays, esperma pela Internet, banco criogênico. Tentam de tudo. Afinal de contas, mesmo lésbicas, as mulheres tem a obrigação da perpetuação... Principalmente pra Hollywood. Hello, nem todo mundo quer ter filho! Nem mesmo pra se encaixar no estereótipo socialmente aceitável da família alternativa. We´re queer, we´re here, deal with it, com ou sem filho, condomínio, leite de soja, tailleur Stella McCartney ou power yoga!

A segunda história é a minha preferida, trata de uma questão mais interna, quando os discriminados discriminam. Foi a que mais me interessou como tema de discussão (as outras duas questões, pra mim, estão encerradas: temos direito e acabou! Pago impostos como todo mundo, não admito ser tratada como cidadã de segunda classe). O ano é 1972, auge do movimento feminista nos USA. Quatro jovens militantes são expulsas do grupo de mulheres da faculdade por serem lésbicas. Ficam putas da cara e resolvem ir à um bar Butch-Femme de beira de estrada. (Não vou explicar o que é butch-femme; blogfriends, pesquisai!). Ao se deparar com mulheres de terno e gravata, capanga e cinto personal, as quatro só conseguem perceber as diferenças entre elas e as freqüentadoras do bar. Tudo piora quando uma das mocinhas se envolve com uma butch engravatada. Quem tem mais intimidade com o mundinho gay, sabe que existem categorias nas quais somos divididas (vou falar só de mulheres, ok?): dykes, butches, femmes, tomboys, boishes, lesbian chic. Essa divisão nos torna mais palatáveis socialmente, os estereótipos são a vaselina da engrenagem social; sei onde está a minha turma, sei onde está o inimigo. As coisas ficam realmente confusas quando tudo se mistura e a tendência a discriminar, peculiar a todos os habitantes do planetinha azul, se acentua.

Particularmente, me vejo como tomboy, graças à uma cara eterna de moleca, com direito a bochechas rosadas e tudo! Mas existem os dias em que acordo dyke, exibo minhas tattoos, olho pras bundas. E existem os dias em que choro por não ter 5 kg a menos pra caber naquele vestido preto lindo que combina com o meu salto preto lindo que combina com a minha bolsa preta linda. E mais do que isso, modelos são lindas; mulher brasileira, linda, com bundão, peitão; ratinha de praia, linda; mas o que me atrai de verdade são tomboys exatamente como eu. Em certos dias.


PS: Blogfriends, desculpas pela desatualização, andei viajando. Mas já tô de volta!