segunda-feira, abril 23, 2007

Alfarrabista de pé quebrado


Chegaram pra mim questões do coração. Não minhas, dessa vez, que bom, o ano sabático está durando!

Outros coraçõezinhos.

Como sempre acontece diante desses alheios peitos abertos (escancarados, talvez, porque sempre se rasgam...) fiz a análise cirúrgica, precisa; esse dom de precisar os outros tenho muito, falta é um bocado pra mim! Mas de verdade, no fundo fundo, fiquei sem palavras. No fundo fundo, não sei bem o que dizer...

Dou esparadrapo, não sutura. Serve, por um tempo. Não muito.

Fui aos meus alfarrábios: Ana C., Mário Sá, Shakespeare, Lorca, Emerson(!), Sarah Teasdale...

Todo mundo fala de amor e ninguém resolve!

E quero eu, ai de mim, ajudar coraçõezinhos quebrados, rachados e colados com Super Bonder?

Audácia da nêga!

Não posso, não sei. Posso carinhar vocês, abraçar apertado, segurar com cuidado o coraçãozinho, ser rede de segurança.

E dizer: vai.

Vai, antes que o mundo se acabe. Vai, antes que a maré mude. Vai, antes que tudo se torne repetido.

Pode ir.

Eu seguro a sua mão.

sexta-feira, abril 13, 2007

Só pra lembrar...

Os dois continhos solitários ainda estão no Recanto... Quem já leu não precisa ler de novo!

http://recantodasletras.uol.com.br/autor_textos.php?id=9902&categoria=1

Os nomes das coisas


Outro dia me perguntaram o porque do blog se chamar Sete Sortes.

Cocei um pouco a memória antes de responder e lembrei que há uns dez anos, eu passei pela rua S. José, no centro do Rio, e ouvi, soando de uma loja de discos, este trechinho:

"Deitamos as sete sortes, oi pá,
para ver a quem matar,
as sete sortes caíram, oi pá,
no capitão generá..."

Era um pedacinho da "Nau Catarineta" e quem cantava era Teca Calazans, cantora brasileira radicada em Paris.

Esse era o único (quando digo único, quero dizer filho único de mãe solteira!) cd que havia na loja. E tocava, alto, pra que toda a rua S. José ouvisse.

Entrei e comprei, acabando com a graça dos passantes.

Nesse dia, nessa época, eu estava apaixonada.

E a voz da Teca girou alguma chavinha aqui dentro.

Depois, a música foi perdendo o seu significado; transformou-se em outra coisa. Tentei ouvir mais tarde, tentei recuperar aquela sensação que tive ao passar pela rua aquele dia; mas não consegui.

Outras músicas vieram. Outros filmes, outros livros, outras epifanias acompanharam outras paixões.

Mas eu nunca descobri o porque de coisas assim, tão gratuitas como passar na rua e ouvir uma música, tocarem tão fundo no segundo exato.

Nunca descobri o nome das coisas.

Sempre soube o momento em que me apaixonei mas nunca o porque.

Sobrou o disco, ótimo, de Teca Calazans.

E fiquei com as Sete Sortes.

segunda-feira, abril 09, 2007

Vidinhas


Minha mãe sempre disse que eu tenho pressa demais.

Quis nascer antes.

Poderia ter ficado mais dois meses e cumprido o tempo regulamentar, mas não! Nasci aos 7 meses, no comecinho de fevereiro, pra ver se arruinava o Carnaval...

Quis ler antes, cedo, cedo, muito cedo.

Poderia ter alongado o tempo da minha imaginação antes de surrupiar as imaginações alheias. Aos 3 e meio, a menina lia e citava, arrogância precoce!

Quis ser adulta antes, porque grande nunca fui e, desconfiei, não seria nunca com aqueles genes italianinhos paternos.

Adulteci rápido, sofrente e deprimida, porque é claro, faltavam etapas na adulteza... (Orgulhe-se, João Rosa, dos três neologismos despejados em uma única sentença!)

Agora, no esplendor de Balzac, minha diversão maior é observar crescimentos.

Paulatinos e cheios de dúvidas, como devem ser sempre.

E todas essas vidinhas que estão entrando na minha, cruzando supersônicas a minha já rápida vidinha; chegam cheias de frescor e primeiras vezes, de descobertas que sorvo, vampira (do bem, é certo, de Maurício de Sousa...), e dou à minha mãe toda a razão que as mães devem ter:


"Calma, menina, aonde você vai com tanta pressa?"


PS: Post dedicado às mocinhas e mocinhos sem pressa, companheiros de cachacinhas, literaturas, fofocas e desafinações nas ladeiras de Mariana e no pó vermelho que manchava os cachorros da Estrada Real.