sábado, dezembro 29, 2007

Déja vu


Este conto escrevi há um par de anos, pensando em uma amiga que se separava. Assustei-me ao descobrir a atualidade dele (pra mim, pro meu coração que está esfarrapado...) e resolvi reproduzi-lo no blog. Nada pode ser mais preciso neste momento.



DANZA

Thomas Bernhard. Diários de Brecht, um marcador da livraria do centro, uma moeda de cinco centavos. Um post-it dizendo “Chego tarde”, já sem cola e sem data. O cheiro estranho da caixa de papelão marrom que peguei no supermercado. Cheiro de sabão e iogurte, de presunto e Lysol. É triste que a minha vida, que a nossa vida que acaba agora, tenha cheiros indistinguíveis. Mais triste ainda, que ela tenha se tornado indistinguível das outras vidas, daquelas vidas ordinárias das quais ríamos, sem querer acreditar que todas as coisas se tornam ordinárias em algum momento.

Olho em volta, me vejo em uma cena clichê de separação, raiva, caixas, lembranças, fita marrom de PVC e aquele ar de perplexidade que pertence às viúvas à beira do caixão. Casal se encontra, casal se apaixona, casal se funde para que depois se torça e se desvencilhe a fórceps, como na medicina do século passado; duas pessoas, rasgando e deformando tudo que foram até que depois do tempo ou da inexorabilidade da vida, se tornem algo que nunca haviam vislumbrado.

Paul Auster, Goethe, Shakespeare, um livro sobre duendes(?!?); meu, seu, de quem? O livro dos duendes fica. De birra. De recalque. No meio da sala. E que a primeira pessoa que entre veja um livro sobre duendes maculando a sua imagem arrogante de intelectual. E saiba que você não é quem diz ser, não é quem eu disse que era, não é quem nós fomos e nos mostramos e, acima de tudo, não é alguém que eu conheça neste momento.

Outra moeda de cinco centavos, não tínhamos um lugar pra guardar moedas, que saco! Como eu faço pra retirar todo o investimento que fiz, todas as moedas perdidas, todos os livros, todo meu cheiro das toalhas; eu, inteira, da tinta das paredes?

Coisas espalhadas; coisas que guardo nas caixas e reconheço como minhas; coisas estranhas a nós, que nos pertenceram, mas como não existimos mais e as coisas não deixam de existir (por que não, meu Deus, deveriam!), ganham uma estranheza, tornam-se desencaixadas como se tivessem sido roubadas por nós e guardadas por tanto tempo a ponto de esquecermos. Me surpreendo a cada objeto comum, me deslembro deles e decido que fiquem com você para que a memória de nós, o casal, dure um pouco mais.

Danço entre as caixas na sala pequena do apartamento e tenho saudade do tempo em que cabia nele. Não quero a saboneteira rosa de plástico, porque não sou eu, não guardo sabonetes em saboneteiras! Não quero as panelas pretas que compramos na promoção, porque entendo que com você nunca fui eu, não sou a pessoa que quer comprar panelas na promoção, que quer pintar a casa de azul-clarinho, que tem jogo americano! Não sou a pessoa que fui com você, então não deveria sangrar tão completamente ao sair daqui!

Respiro o ar povoado de Lysol, iogurte e vontade de chorar e gritar e bater em você e bater a cabeça na parede e fingir que estou bem e de estar bem de verdade e esses cheiros todos passando por dentro de mim, sendo devolvidos com raiva, com dor, com saudade, com alívio.

Fecho as caixas uma a uma, minto pra mim, me engano e tento esconder que me sinto rasgada, exposta, oposta a essas caixas que fecho devagar e tão meticulosamente como se elas fossem ficar aqui pra sempre, cápsulas do tempo repletas com a história de um casal que já não é.

Sento no chão, esperando a campainha tocar, o moço da Kombi e o ajudante, que vão carregar a minha potencial vida encaixotada para esse novo lugar, onde vou preencher paredes e armários com minhas coisas e comigo, gavetas com minhas roupas e comigo, estantes com meus livros e comigo; um lugar onde eu existo e você, não.


sexta-feira, dezembro 21, 2007

RENEWED!!!


GO BACK (Titãs)

Você me chama,
Eu quero ir pro cinema,
Você reclama,
Meu coração não contenta,
Você me ama,
Mas, de repente, a madrugada mudou,
E certamente,
Aquele trem já passou...
E se passou, passou daqui pra melhor, foi!

Só quero saber do que pode dar certo,
Não tenho tempo a perder.
Só quero saber do que pode dar certo,
Não tenho tempo a perder.

Não é o meu país,
É uma sombra que pende, concreta,
Do meu nariz em linha reta.
Não é minha cidade,
É um sistema que invento,
Me transforma
E que acrescento
À minha idade.
Nem é o nosso amor,
É a memória que suja
A história,
Que enferruja o que passou.
Não é você,
Nem sou mais eu,
Adeus, meu bem!
(adeus adeus)
você mudou,
mudei também,
adeus, amor
adeus!

Só quero saber do que pode dar certo,
Não tenho tempo a perder!

sábado, dezembro 15, 2007


O avesso é um lugar onde não queremos estar.

Onde tudo se mostra, se derrama, se desfaz.

Do avesso.

Trocado para o lado de fora, visível, vulnerável.

Tudo aquilo que se protege, com epiderme, gordura, sete camadas de tecido; assim, espalhado na rua, passível de infecções, contaminações, morte.

Tudo avesso.

O que era amor, o que era futuro, o que era vida de verdade, ao contrário.

Avesso.

domingo, outubro 21, 2007

Timing.


Inspiração hiperbólica.
Tudo.
Tudo.
Tudo.
A gente fala bem, a gente se ouve bem, a gente se olha bem e faz o resto todo muito, muito bem juntas.
Surgiu numa hora estranha, quase inconveniente.
Aceitei imediatamente, vá lá que eu perca e nunca mais encontre?
Perfect timing.

quarta-feira, setembro 05, 2007

Só pra justificar a orfandade...


Estava devendo post, eu sei...

Passei duas semanas sem tempo pra respirar. Andei dando uns passinhos maiores que as perninhas.

Também, nada de novo no front.

Acidente de trem no Rio.
Julgamento do Renan em Brasília.
Greve do metrô em Londres.
Suspeita de terrorismo em Berlim.
George W. all over the place.
São Paulo, hum, continua São Paulo.

Mudo eu, já que não muda nada.

Sobrecarregada.
Em múltiplos aspectos.

Mas, quer saber?

Feliz. (vou usar essa palavra rapidamente, porque, parafraseando o velho Abu, dura pouco!)

Viu, já acabou!

terça-feira, agosto 07, 2007

Não fui eu.


Agora, baixando a poeira, estou conseguindo ler sobre a tragédia do 3054 da TAM.

Nas últimas duas semanas, eu, assim como a nação, estava no olho da comoção e da solidariedade.

A empatia deu lugar à raiva.

Raiva do governo, raiva da ANAC, raiva da TAM, da Airbus...

Mas acima de tudo, raiva dessa nossa adolescência institucional, tão brasileira quanto o samba ou Pelé.

O governo empurrando sua responsabilidade para a TAM; as empresas, para o governo; e todo mundo, para os pilotos, que já morreram e não têm mais voz por suas honra e dignidade.

A vontade maior é gritar: SEJA HOMEM!

Seja homem, presidente Lula, chame a responsabilidade para si.

Seja homem, diretor da ANAC, assuma seus erros e negligências.

Sejam homens, herdeiros do Comandante Rolim, este sim, um grande homem, que criou uma grande empresa do nada; coloquem-se à frente do negócio que tocam.

Sejam homens e não se escondam atrás dos cadáveres de pilotos competentes e conscienciosos, para os quais as vidas que transportavam e pelas quais eram responsáveis, significavam mais do que uma cifra nessa aviação monopolizada.

A tragédia acabou, as famílias já enterraram seus mortos, nada, absolutamente nada, os trará de volta.

Mas, daqui em diante?

Até quando?

Até quando continuaremos dizendo, quando a corda aperta, quando a realidade se impõe, quando somos chamados à responsabilidade:

"Não fui eu, mamãe!"?

terça-feira, julho 31, 2007

Estudos para uma bailadora andaluza


Dir-se-ia, quando aparece

dançando por siguiriyas,

que com a imagem do fogo

inteira se identifica.


Todos os gestos do fogo

que então possui dir-se-ia:

gestos das folhas do fogo,

de seu cabelo, sua língua;

gestos do corpo do fogo,

de sua carne em agonia,

carne de fogo, só nervos,

carne toda em carne viva.


Então, o caráter do fogo

nela também se adivinha:

mesmo gosto dos extremos,

de natureza faminta,

gosto de chegar ao fim

do que dele se aproxima,

gosto de chegar-se ao fim,

de atingir a própria cinza.


Porém a imagem do fogo

é num ponto desmentida:

que o fogo não é capaz

como ela é, nas siguiriyas,

de arrancar-se de si mesmo

numa primeira faísca,

nessa que, quando ela quer,

vem e acende-a fibra a fibra,

que somente ela é capaz

de acender-se estando fria,

de incendiar-se com nada,

de incendiar-se sozinha.


Subida ao dorso da dança

(vai carregada ou a carrega?)

é impossível se dizer

se é a cavaleira ou a égua.


Ela tem na sua dança

toda a energia retesa

e todo o nervo de quando

algum cavalo se encrespa.


Isto é: tanto a tensão

de quem vai montado em sela,

de quem monta um animal

e só a custo o debela,

como a tensão do animal

dominado sob a rédea,

que ressente ser mandado

e obedecendo protesta.


Então, como declarar

se ela é égua ou cavaleira:

há uma tal conformidade

entre o que é animal e é ela,

entre a parte que domina

e a parte que se rebela,

entre o que nela cavalga

e o que é cavalgado nela,

que o melhor será dizer

de ambas, cavaleira e égua,

que são de uma mesma coisa

e que um só nervo as inerva,

e que é impossível traçar

nenhuma linha fronteira

entre ela e a montaria:

ela é a égua e a cavaleira.


Quando está taconeando

a cabeça, atenta, inclina,

como se buscasse ouvir

alguma voz indistinta.


Há nessa atenção curvada

muito de telegrafista,

atento para não perder

a mensagem transmitida.


Mas o que faz duvidar

possa ser telegrafia

aquelas respostas que

suas pernas pronunciam

é que a mensagem de quem

lá do outro lado da linha

ela responde tão séria

nos passa despercebida.


Mas depois já não há dúvida:

é mesmo telegrafia:

mesmo que não se perceba

a mensagem recebida,

se vem de um ponto no fundo

do tablado ou de sua vida,

se a linguagem do diálogo

é em código ou ostensiva,

já não cabe duvidar:

deve ser telegrafia:

basta escutar a dicção

tão morse e tão desflorida,

linear, numa só corda,

em ponto e traço, concisa,

a dicção em preto e branco


Ela não pisa na terra

como quem a propicia

para que lhe seja leve

quando se enterre, num dia.


Ela a trata com a dura

e muscular energia

do camponês que cavando

sabe que a terra amacia.


Do camponês de quem tem

sotaque andaluz caipira

e o tornozelo robusto

que mais se planta que pisa.


Assim, em vez dessa ave

assexuada e mofina,

coisa a que parece sempre

aspirar a bailarina,

esta se quer uma árvore

firme na terra, nativa,

que não quer negar a terra

nem, como ave, fugi-la.


Árvore que estima a terra

de que se sabe família

e por isso trata a terra

com tanta dureza íntima.


Mais: que ao se saber da terra

não só na terra se afinca

pelos troncos dessas pernas

fortes, terrenas, maciças,

mas se orgulha de ser terra

e dela se reafirma,

batendo-a enquanto dança,

para vencer quem duvida.


Sua dança sempre acaba

igual como começa,

tal esses livros de iguais

coberta e contra-coberta:

com a mesma posição

como que talhada em pedra:

um momento está estátua,

desafiante, à espera.


Mas se essas duas estátuas

mesma atitude observam,

aquilo que desafiam

parece coisas diversas.


A primeira das estátuas

que ela é, quando começa,

parece desafiar

alguma presença interna

que no fundo dela própria,

fluindo, informe e sem regra,

por sua vez a desafia

a ver quem é que a modela.


Enquanto a estátua final,

por igual que ela pareça,

que ela é, quando um estilo

já impôs à íntima presa,

parece mais desafio

a quem está na assistência,

como para indagar quem

a mesma façanha tenta.


O livro de sua dança

capas iguais o encerram:

com a figura desafiante

de suas estátuas acesas.


Na sua dança se assiste

como ao processo da espiga:

verde, envolvida de palha;

madura, quase despida.


Parece que sua dança

ao ser dançada, à medida

que avança, a vai despojando

da folhagem que a vestia.


Não só da vegetação

de que ela dança vestida

(saias folhudas e crespas

do que no Brasil é chita)

mas também dessa outra flora

a que seus braços dão vida,

densa floresta de gestos

a que dão vida a agonia.


Na verdade, embora tudo

aquilo que ela leva em cima,

embora, de fato, sempre,

continui nela a vesti-la,

parece que vai perdendo

a opacidade que tinha

e, como a palha que seca,

vai aos poucos entreabrindo-a.


Ou então é que essa folhagem

vai ficando impercebida:

porque terminada a dança

embora a roupa persista,

a imagem que a memória

conservará em sua vista

é a espiga, nua e espigada,

rompente e esbelta, em espiga.


(MELO NETO, João Cabral de 1986, p. 127)

terça-feira, julho 17, 2007

Blog associado.

Criei ontem um blog associado, com comentários livres. Abro com um texto de Thomas Bernhard, que deu nome à casa. Quem quiser publicar neste blog, mande o texto pro e-mail:

shoematecreativefeatures@hotmail.com


Link do blog:

http://thomaseosdemonios.blogspot.com/

segunda-feira, julho 16, 2007

A hora de dizer não.


Não preciso de muito espaço, apenas meu metro quadrado.

Metáfora, é claro.

Mas, sim, tenho, todos temos; um metro quadrado, que é nosso espaço, onde estão traçados nossos limites.

Sou craque em permitir a invasão desse meu metrinho quadrado.

O outro dá um passinho, ops!; mais um, upa!; mais unzinho, epa!; tá lá, só me sobra um centímetro quadrado aonde eu me espremo pro outro se esticar.

Acabou.

Não dá mais.

Dizer "não" é uma medida disciplinar, reguladora.

Saudável.

Faz bem ao outro, preserva as relações.

Recentemente, tenho dito não ao primeiro sinal de invasão. E posto os folgados, os abusos antigos, pra fora.

No meu metro quadrado só cabe um: eu.

Eu cá no meu, o outro lá no seu, e a gente vai se entendendo assim.

Como diz a sabedoria popular (ênfase em "sabedoria"):

"Eu não vou na sua casa,
Pra você não vir na minha,
Você tem a boca grande,
Vai comer minha farinha."

Ass: Shoemate (traçando fronteiras!)

quinta-feira, julho 12, 2007

Para o alto e avante!


Todo mundo tem morcegos no sótão. Alguns chamam de esqueleto no armário, outros, de histórias mal-resolvidas.

Eu chamo de morcegos no sótão.

Vivem no escuro.

São feios, cegos, cabeludos, roubam sangue e transmitem raiva: a definição exata de tudo aquilo que a gente esconde bem no escondido, pra não ter que mexer, e rezando pra morrer antes de tudo vir à tona.

Meus morcegos são emocionais. E de vez em quando, dão uma flapeada pelo sótão, só pra dizer que estão lá...

Já há alguns anos, quando finalmente me convenci que tinha que crescer e guardar os meus sweet seventeen na memória, comecei um processo de limpeza do sótão. (Não se enganem, é ingrato, não termina nunca!)

A gente começa pelos maiores, os mais aparentes.

Mãe de Freud, infância (super-estimada em sua nostalgia, subestimada em sua violência emocional), adolescência, claustrofobia, a tendência inexorável às profundezas da depressão.

Depois, precisando, pede ajuda aos desratizadores: terapia, fluoxetina, mãe!, amigos.

Funciona.

O meu sótão tem um hall de entrada que é uma beleza! Parece até o foyer do Sheraton!

Mas é mentira.

Sobram alguns morcegos. Pequenos. Sub-reptícios. Dolorosos.

Ficam escondidos nos cantinhos mais remotos, só esperando que a gente passe por lá. Voam no nosso pescoço e sugam toda a energia de vida que temos.

Estou no meio de uma limpeza das boas. Acabei de encontrar um ninho, cheio de morceguinhos pendurados de cabeça pra baixo. Morcegos, aliás, que não são só meus; são divididos, compartilhados.

Morcegos que vivem aqui dentro e acolá dentro também.

Talvez seja um dos processos de desinfecção mais difíceis que encontrei na vidinha.

O que me leva adiante; ao alto e avante; é a certeza férrea de que ficaremos bem.

Depois de tudo, ficaremos todos bem.

terça-feira, julho 03, 2007

"A fronte praecipitium, a tergo lupi." *


Viver causa danos irreparáveis.

A vida, como ela é e deveria ser vivida, é incompatível com os nossos valores.

Deveriámos ser famintos, sorver, tragar, devorar a vida, todos os dias, a todo segundo. Não podemos. Há os outros.

Deveríamos ir sempre, sempre adiante, chegar lá, onde quer que seja nosso lá, sem parar, sem respirar. Não dá. Existem outros.

A vida é incompatível com a vida.

Ainda ontem afirmei que só era possível manter relacionamentos humanos longos e estáveis excluindo deles a verdade.

A verdade não nos é muito útil.

Precisamos da mentira amorosa, da mentira sanitária, aquela que disfarça a nossa vida em meia-vida social.

Aquela que esconde todos os ódios, invejas, ganâncias, mesquinharias, crueldades que sentimos e queremos infligir àqueles que mais amamos.

Viver como queremos é tarefa olímpica, idealizada, romântica, pura.
Viver como devemos é para os baixos, para o desfile bestiário onde realmente estamos.

Viver inteiramente é para os reles.


PS: A imagem de abertura do post é o quadro "Saturno" do pintor espanhol Francisco de Goya (1746-1828)

* Pela frente um precipício, por trás os lobos."

quinta-feira, junho 21, 2007

Não pega nada.


Há dois ou três anos, estava eu na fila do raio-x do Aeroporto de Brasília, embarcando pra casa, depois de uma longa e tenebrosa viagem pelo Norte (detalhes importantes, porque demonstram, principalmente aos que me conhecem, meu estado de espírito: detesto fila de aeroporto, detesto Brasília, não sou muito fã do Norte e estava numa exaustão de prisioneiro russo na Sibéria!), quando um senhor, de pasta 007 num carrinho, atropela a fila inteira e tenta entrar na sala de embarque sem submeter seus pertences à esteirinha do raio-x.

A inspetora de segurança, é claro, interrompeu o caminho tão direto desse nosso amigo, informando-o, gentilmente, de seu lapso em ser igual a todos naquela fila desgraçada.

Eis que, para nenhuma surpresa dos espectadores, o homem segura a lapela do paletó, na qual ostentava um broche do Legislativo e dispara à mocinha:

"- Você deve ser nova aqui!
- Realmente, senhor, por que?
- Porque você não sabe com quem está falando!"

(Minha mãe sempre me diz pra controlar meu gênio, ser mais conseqüente, que um dia posso acabar presa ou morta... Não consegui...)

O sangue subiu, amigos, e dadas as condições já anteriormente expostas de temperatura e pressão, desfiei uma série de verdades patrióticas, embora extremamente deselegantes, no que fui acompanhada pelos companheiros de fila.

Disse, em termos um tanto mais reles, que ninguém sabia quem ele era, porque moços como ele insistem em não mostrar a cara nos momentos mais relevantes. Deixei claro quem pagava seu salário de deputado, senador ou equivalente parasita. Falei que líderes têm a obrigação do exemplo e diante daquela atitude, pobre país o nosso. E que vergonha na cara não é prerrogativa do povo e, principalmente, não é item opcional.

Quase fui presa. E seria, de verdade, se não fosse pelos companheiros de fila, irmãos de indignação, que impediram o parlamentar de prestar queixa por desacato e o vaiaram até que desaparecesse em uma salinha.

Eu seria presa.

Diferente de Pimenta Neves, Renan Calheiros ou José Dirceu.

Seria presa por desacato.

Diferente de Epitácio Cafeteira, Romeu Tuma ou Roberto Jefferson.

Eu sofreria as consequências.

Não Álvaro Lins, a máfia do bingo ou Vavá, o primeiro-irmão.

A adolescência desse país é espantosa. Pode-se tudo, não se responde por nada.

Talvez por roubar um pacote de manteiga no mercado. Isso sim, dá três anos de cadeia.
Ou denunciar o ministro da Fazenda. Isso dá quebra de sigilo bancário.
Ou expor a corrupção do governo estadual, Dinastia Garotinhos. Isso dá exílio.

Mas o resto, não. O desdém, a soberba, a ganância, o roubo, o assassinato (identificados como pecados mortais nas três religiões principais deste vasto mundo!), isso não.

Fiquem tranquilos.

Não dá nada.



PS1: Os textos políticos, dos quais alguns blogfriends são fãs, são intermitentes. Ando muito pessoal, amados.

PS2: Deus abençoe a Internet. Parafraseando o deputado Roberto Freire: "Vamos parar com a censura, antes que seja Chávez!"

segunda-feira, junho 18, 2007

Any given Monday...


As gentes andam por aí e, tum!, sem querer tropeçam num amor...

Amor pessoa, amor coisa, amor trabalho, amor bicho, enfim, um amorzinho solto any given day.

Eu sou cheia dos tropeços.

Cada dia tem pedras no meio do caminho (essa gafanhotinha e o mentor Paulo, me trazendo Carlos Drummond, coração e cabeça...), cascalho, brita...

Não pulo, não salto, não desvio.

E lá vou eu tropeçando, ralando o joelho, aquele ralado ardido que mistura a areia com um quase sangue pontilhado...

Demora dias, semanas, pra parar de arder.

As gentes têm que ter medo pra viver sem ralado...

Eu não tenho.

sábado, junho 09, 2007

Abre-te, Sésamo!


E eu lá, na mão da menina; naquela mãozinha que agora não sabe o que fazer comigo...

Eu, boba, entregue; e pra ela, tudo; tudo, tudo novo, tudo novidade.

Seremos outras daqui em diante. Teremos pesos, olhares, toques e esbarrares diferentes.

Indefinidos.

E eu chovendo, ou fazendo sol, porque já vi, já vivi, já passei, já doí e não doí, já me faltou o ar; vivendo mais um dia, mais um passo.

E ela procurando um lugarzinho pra mim, um outro, um que não era, porque eu mudei o que era.

E eu aqui, bagunçando a minha vida, (a dela, um pouquinho), como bagunço meu quarto, como bagunço as gavetas, pra que tudo se perca um tanto; pra que eu ache tudo depois.

sábado, maio 26, 2007

Um homem é um homem.


Maiakovski: tive a oportunidade de ouvi-lo citado em russo e de saber que em sua poesia escuta-se o clamor das multidões. Só uma palinha...


Ressuscita-me

Ainda que mais não seja
Porque sou poeta
E ansiava o futuro
Ressuscita-me
Lutando contra as misérias do cotidiano
Ressuscita-me por isso
Ressuscita-me
Quero acabar de viver o que me cabe
Minha vida
para que não mais existam
amores servis
Para que ninguém mais tenha
de sacrificar-se
por uma casa
um buraco
Ressucita-me
Para que a partir de hoje
A família se transforme
e o pai seja
pelo menos o universo
E a mãe seja no mínimo a Terra
A Terra
A Terra.


E Então Que Quereis?...

Fiz ranger as folhas de jornal
abrindo-lhes as pálpebras piscantes.
E logo
de cada fronteira distante
subiu um cheiro de pólvora
perseguindo-me até em casa.
Nestes últimos vinte anos
nada de novo há
no rugir das tempestades.

Não estamos alegres,
é certo,
mas também por que razão
haveríamos de ficar tristes?

O mar da história
é agitado.

As ameaças
e as guerras
havemos de atravessá-las,
rompê-las ao meio,
cortando-as
como uma quilha corta
as ondas.

quarta-feira, maio 09, 2007

Traje: Casual


Ao receber um convite que especifica traje casual, pense em Havaianas, All Star, para os pés; Hering, para cima; jeans, para baixo. Roupas que não exigem muito pensamento, muito devaneio, muito esforço.

Simples.

Bom e confortável. Casual.

Agora pense sexo.

Pense sexo casual.

O que é diferente? O que não encaixa como Havaianas, o que não veste como Hering, o que não se ajusta como jeans?

O que não demanda nada e cobra tudo? O que nos esvazia de sentido, voz, juízo, vergonha na cara?

O que deixa, no dia seguinte, som, gosto, cheiro, e mais nada?

Don´t get it twisted. Sou uma entusiasta da casualidade. Mas há um precinho. Uma taxa.

Há palavras sem eco, gestos únicos, olhares pontuais.

Há o que falta.

quinta-feira, maio 03, 2007

20 Coisas Perigosas (pra fazer enquanto se está vivo...)



1 - Viver. Viver é muito perigoso, já dizia o Rosa.
2 - Atravessar a rua sem olhar pros lados.
3 - Atravessar a vida sem olhar pros lados.
4 - Olhar pros lados e ver alguém que você jamais imaginaria ver.
5 - Consumir álcool sem moderação.
6 - Consumir gente sem moderação.
7 - Fumar.
8 - Pular de cabeça no bungee jump.
9 - Pular de cabeça. Ponto.
10 - Andar de bicicleta sem as mãos.
11 - Andar por aí cheio de mãos.
12 - Dirigir sem carteira.
13 - Dirigir olhando pra trás.
14 - Dirigir de olhos fechados.
15 - Dirigir.
16 - Qualquer coisa de olhos fechados.
17 - Montanha-russa.
18 - Livros.
19 - Filmes.
20 - Pensar.

segunda-feira, abril 23, 2007

Alfarrabista de pé quebrado


Chegaram pra mim questões do coração. Não minhas, dessa vez, que bom, o ano sabático está durando!

Outros coraçõezinhos.

Como sempre acontece diante desses alheios peitos abertos (escancarados, talvez, porque sempre se rasgam...) fiz a análise cirúrgica, precisa; esse dom de precisar os outros tenho muito, falta é um bocado pra mim! Mas de verdade, no fundo fundo, fiquei sem palavras. No fundo fundo, não sei bem o que dizer...

Dou esparadrapo, não sutura. Serve, por um tempo. Não muito.

Fui aos meus alfarrábios: Ana C., Mário Sá, Shakespeare, Lorca, Emerson(!), Sarah Teasdale...

Todo mundo fala de amor e ninguém resolve!

E quero eu, ai de mim, ajudar coraçõezinhos quebrados, rachados e colados com Super Bonder?

Audácia da nêga!

Não posso, não sei. Posso carinhar vocês, abraçar apertado, segurar com cuidado o coraçãozinho, ser rede de segurança.

E dizer: vai.

Vai, antes que o mundo se acabe. Vai, antes que a maré mude. Vai, antes que tudo se torne repetido.

Pode ir.

Eu seguro a sua mão.

sexta-feira, abril 13, 2007

Só pra lembrar...

Os dois continhos solitários ainda estão no Recanto... Quem já leu não precisa ler de novo!

http://recantodasletras.uol.com.br/autor_textos.php?id=9902&categoria=1

Os nomes das coisas


Outro dia me perguntaram o porque do blog se chamar Sete Sortes.

Cocei um pouco a memória antes de responder e lembrei que há uns dez anos, eu passei pela rua S. José, no centro do Rio, e ouvi, soando de uma loja de discos, este trechinho:

"Deitamos as sete sortes, oi pá,
para ver a quem matar,
as sete sortes caíram, oi pá,
no capitão generá..."

Era um pedacinho da "Nau Catarineta" e quem cantava era Teca Calazans, cantora brasileira radicada em Paris.

Esse era o único (quando digo único, quero dizer filho único de mãe solteira!) cd que havia na loja. E tocava, alto, pra que toda a rua S. José ouvisse.

Entrei e comprei, acabando com a graça dos passantes.

Nesse dia, nessa época, eu estava apaixonada.

E a voz da Teca girou alguma chavinha aqui dentro.

Depois, a música foi perdendo o seu significado; transformou-se em outra coisa. Tentei ouvir mais tarde, tentei recuperar aquela sensação que tive ao passar pela rua aquele dia; mas não consegui.

Outras músicas vieram. Outros filmes, outros livros, outras epifanias acompanharam outras paixões.

Mas eu nunca descobri o porque de coisas assim, tão gratuitas como passar na rua e ouvir uma música, tocarem tão fundo no segundo exato.

Nunca descobri o nome das coisas.

Sempre soube o momento em que me apaixonei mas nunca o porque.

Sobrou o disco, ótimo, de Teca Calazans.

E fiquei com as Sete Sortes.

segunda-feira, abril 09, 2007

Vidinhas


Minha mãe sempre disse que eu tenho pressa demais.

Quis nascer antes.

Poderia ter ficado mais dois meses e cumprido o tempo regulamentar, mas não! Nasci aos 7 meses, no comecinho de fevereiro, pra ver se arruinava o Carnaval...

Quis ler antes, cedo, cedo, muito cedo.

Poderia ter alongado o tempo da minha imaginação antes de surrupiar as imaginações alheias. Aos 3 e meio, a menina lia e citava, arrogância precoce!

Quis ser adulta antes, porque grande nunca fui e, desconfiei, não seria nunca com aqueles genes italianinhos paternos.

Adulteci rápido, sofrente e deprimida, porque é claro, faltavam etapas na adulteza... (Orgulhe-se, João Rosa, dos três neologismos despejados em uma única sentença!)

Agora, no esplendor de Balzac, minha diversão maior é observar crescimentos.

Paulatinos e cheios de dúvidas, como devem ser sempre.

E todas essas vidinhas que estão entrando na minha, cruzando supersônicas a minha já rápida vidinha; chegam cheias de frescor e primeiras vezes, de descobertas que sorvo, vampira (do bem, é certo, de Maurício de Sousa...), e dou à minha mãe toda a razão que as mães devem ter:


"Calma, menina, aonde você vai com tanta pressa?"


PS: Post dedicado às mocinhas e mocinhos sem pressa, companheiros de cachacinhas, literaturas, fofocas e desafinações nas ladeiras de Mariana e no pó vermelho que manchava os cachorros da Estrada Real.

sábado, março 31, 2007

Long Time No Sea (com trocadilho)


Tenho bicho-carpinteiro. Na alma. Preciso viajar.

E o bicho lá. Coça, dói...

O bicho-carpinteiro do nomadismo.

Estaria na comissão de frente de Moisés, prontinha pra 40 anos de travessia.

Se eu fosse um português de 1500, provavelmente seria o primeiro voluntário pra casquinha de noz que ia atravessar o Atlântico até cair do mundo.

Colocaria purgante na comida do Neil Armstrong pra embarcar na Apollo no lugar dele.

Não há estado desse Brasilzão aonde eu não tenha pisado pelo menos uma vez. Já fui à África, às 3 Américas, à Europa. Parece muito, e me desespera saber o quanto ainda não conheço, pra quantos lugares ainda não fui.

Sempre quis conhecer todos os desertos do mundo. Dos de areia, faria ampulhetas. Dos de gelo, clepsidras. Sempre soube que os desertos sabiam mais a respeito do tempo. Deixaria os de pedra para as topadas e os de sal, para arder.

Ainda não fui à nenhum.

Um moço na Colômbia, no meio de uma praça, me disse. Esse moço xamã (como informou o amigo dele) me parou e disse que eu tinha olhos de deserto. Não me cobrou nada por isso. E eu acreditei porque sempre tive paixão por desertos e ele não sabia.

E o bicho aqui... Coçando na alma.

domingo, março 18, 2007

Roseanas


O vau, o vago, o vazio.

Agora e durante a minha submersão no universo de Guimarães Rosa, me descobri ressentida.

Me ressinto de Rosa por ter me roubado o prazer de rosear; das invencionices de palavras pelo som, pelo barulho que fazem despejadas assim, no ar. Se roseio, é plágio; e pior que plágio, é maltrato, é malfeito, porque não sou Rosa e não há o que ele já não tenha inventado neste português de meu Deus.

Sou obrigada a combinar a música com seu significado, pequeno em qualquer lugar, sabia muito bem o Rosa; pequeno, mesmo nessa difícil língua alatinada que falo, essa língua impossível que, de vasta e larga, cobre todas as palavras com precisões significadoras.

Quisera eu que o vau, o vago e o vazio fossem a mesma coisa porque dançam tão bem juntos, nessa frase e no palato. Mas não. O vau é outra, o vago é uma e o vazio é vazio mesmo.

Me arrisco, ali e ali, às vezes, num deslembramento, num reprecisar, mas é só. Ficam assim, soltinhas no meio de um conto, misturadas às palavras catalogadas, e passam sem me comprometer com o crime. Mas grande, imenso, de outro dicionário, um que não existe; não pode.

Posso ler o Rosa. A vida toda, até, que não acaba. Posso rezar um pouquinho, genuflexar, para que as minhas solitárias roseanas bastardas passem assim-assim, só adoçando as irmãs palavras legítimas. E posso esperar que João, o homem, o Rosa, esteja lá na sua sesmaria de céu, todo se rindo e dizendo, encantado: "Viver é um descuido prosseguido!"

E mais o é escrever.

sábado, março 17, 2007

Estado de espírito


"Oh yeah, I'm fine,
Everything's just wonderful,
I'm having the time of my life."

Sou eu, assim, fora de contexto, mas feliz, feliz que não se acaba! O coraçãozinho começou a se mostrar, tá batendo, forte, forte! Cadê as palavras, gente, nessa hora? Tem não, tem não! Tomara que esse post não "jinx" nada (blogfriend que não fala inglês, dictionary online!), I'm having the time of my life!

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Abaixo a Mamãelândia! ou um Libelo contra a maternidade compulsória


Por favor, não me levem a mal.

Adoro crianças. Meus amigos com filhos estão aí pra provar.

Adoro o Ian (que agora nem é mais criança, mas que vi crescer...), adoro a Lara. O Gabriel, a Cecília, a Sílvia e a Juliana. O André Luiz. Adoro o Lucca e o Rodrigão. O Jonas e o Giovanni. Adoro o Leonardo, que se auto-nomeia Leodado, que foi meu parceiro de dança mais constante no casamento da tia dele e que acha que eu sou a melhor "levadora" de crianças pra fazer xixi porque eu deixo fazer bagunça na hora de lavar as mãos.

Mais do que isso: as crianças também me adoram; outra coisa pra qual existe ampla comprovação. Mesmo as mais difíceis, em algum momento, descobrem essa tia bacana e tatuada, o que a torna mais bacana ainda... E nenhuma, absolutamente nenhuma delas, me chama de tia!

Então, o porque deste título, deste post?

Eu explico: apesar de adorar crianças; adoro as dos outros, que têm prazo de validade.
Na hora que eu vou sair pra beber chopp, volta pra mãe. Na hora de assistir aquele filme besta na TV, tchau, tá na hora de ir pra casa. Na hora de fazer todas as coisas que adultos fazem quando bem entendem, toma que o filho é seu.

Compreendam, não sou um monstro. Tomo conta, troco fralda, bato papo, jogo videogame, brinco de carrinho, dou comida, conto piada ( o Gabriel achava que eu era a melhor contadora de piada que ele conhecia...). Mas não embolem o meio de campo, não são meus filhos. Não vou educá-los. Não vou dar bronca. Só vou fazer coisas que tia legal faz e acabou.

E não terei filhos.

Chegamos ao ponto. Tenho uma teoria a respeito. Um ideal, talvez. Acho que quando queremos ter um filho, o queremos com alguém. Amamos tanto uma pessoa que nada mais nos resta a não ser se fundir a ela da maneira mais radical e indissolúvel: tendo um filho (incluo aqui os adotados).
Não consigo conceber a idéia de simplesmente ter um filho porque eu quero. Ou porque já passei dos trinta. Ou porque... ah!... porque sou mulher...

Ser mulher não faz de mim uma reprodutora. Ser mulher também não gera em mim instintos automáticos de maternidade. Meu relógio biológico não está tocando como um despertador.

Estou de saco cheio dessa coisa chata que muita, mas muitíssima gente mesmo, tem vindo me perguntar que é quando terei filhos. Não se quero; mas quando!

Aí vai a resposta: nunca! OK? Conversamos?

Mais do que essa cobrança irracional da perpetuação orientada pelo gênero, ultimamente também sofro uma pressão orientada pela sexualidade.

Não sei, parece que é moda agora, todas as lésbicas têm obrigação de engravidar. Reafirmação da feminilidade? Aceitação social? Mãe, sou gay mas vou te dar um neto? Hum...

Notem bem, não sou contra a maternidade em geral ; sou contra a MINHA maternidade.

Coisas passam pela minha cabeça... Minha vida controlada pelo horário de uma criança. A hora de mamar. A hora de dormir. De dar banho. De ir pra escola. As viagens que não poderei fazer. As saídas com os amigos que adiarei. As trepadas no meio da sala que não terei. Não... não é pra mim!

E antes que pichem "EGOÍSTA" na parede do meu blog, lembro aos amigos que estarei sempre disponível para tomar conta dos pequenos para que vocês possam eventualmente fazer tudo isso de que eu não abrirei mão.

E depois volta cada um pra sua casa.

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Pra tudo se acabar na quarta feira...


Detesto carnaval. Mesmo. Com raiva.

Eu não era assim...

Já fui associada da Banda de Ipanema, vejam só!

Mas de uns anos pra cá, tudo me irrita.

Pit boys ameaçando. Overacting das bichinhas. Invasão do funk. Mijo na rua. Sexo na rua. Sapucaí pra inglês ver. Sapucaí com chiqueirinho VIP. Bandido tirando onda de celebridade. Samba reloaded. Falta de opção. Festa eletrônica a 140 reais. Trânsito caótico. Abadá. Polícia descendo a porrada. Tudo fechado. Um país que só funciona depois do carnaval.

Fico em casa, pedindo baixinho, pra que a quarta-feira chegue logo...

Vou requerer cidadania sueca. Por uma semana. Só durante o carnaval.

Quando o país acordar, vocês me chamam.


PS: Só um pensamento... O assassinato de João Hélio perdeu seu espaço no jornal pra "tragédia" da Beth Carvalho e a diretoria da Mangueira. Só um pensamentozinho...

domingo, fevereiro 11, 2007

Da vida e sua inexorável fugacidade(ou Réquiem para uma surpreendente jovem de 26 anos que se foi cedo; cedo demais)



Essa semana, na madrugada do dia 5 de fevereiro, minha prima Raquel faleceu, aos 26 anos, de enfarte do miocárdio.

Tudo surpreende: a idade, a fatalidade, a rapidez.

Mas o mais surpreendente foi o que se seguiu.

Minha tia, mãe dela, passou a semana descobrindo um outro lado de sua filha. Todos os dias, vindos dos lugares mais improváveis, telefonemas a informam da infinita bondade dessa moça Raquel.

Ajuda financeira, moral, espiritual, que ela provinha a todos que a procuravam, necessitados.

Um tio que precisou de aulas de matemática. Uma mulher que tinha problemas com o banco.

Outras, muitas coisas; sem que ninguém soubesse.

Uma disponibilidade genuína de ajudar, de se fazer presente nos momentos mais importantes.

A última vez que nos vimos, ela se ofereceu para atravessar a cidade e ir buscar a nossa avó, na Zona Leste, para que ela pudesse assistir à estréia do Surto em São Paulo. Numa sexta-feira. Às 7 da noite. Trazendo o mesmo sorriso meigo e doce com o qual me presenteou após o espetáculo.

Coisas pequenas, coisas grandes. Para tudo.

Nos fará grande, imensa falta. Já faz.

Fica em nós um vazio desmedido; uma dor por sua partida.

Resta para nós, o bálsamo impressionante de sua existência; o seu legado.

domingo, fevereiro 04, 2007

Manhã de Aniversário



(Post ainda imerso em todo o álcool consumido ontem. E garanto que não foi pouco.)

Bom dia pra mim! Quer dizer, ainda é um bom dia, porque a bebedeira ainda está aqui e a ressaca ainda não chegou. Mas chegará, fatal como um aniversário...

Envelheço.

Não só nos cabelos brancos, que de 2 ou 3 anos pra cá, resolveram aparecer bem na frente, ostensivos.
Não só nos músculos que têm que passar pelos aparelhos duas vezes mais para despontarem.
Não só no cansaço que me acomete às 4 da manhã, quando antes só chegaria às 4 da tarde.

Fatal.

Completo 33 anos muito lúcidos. Mais lúcidos do que eu realmente gostaria, muitas vezes.

Em poucas horas, estarei me crucificando nessa manhã de domingo; fatal; de aniversário. Pelas besteiras faladas ontem, pelos abraços mal-dados, pela pouca atenção dedicada a tantas pessoas que conheço.

Estarei moralmente crucificada, repetindo um ritual tradicional dos que completam 33, bêbados.

PS: Aos amigos preocupados, a imagem é só uma piadinha de humor negro. O estado de espírito é outro. Ou será, quando estiver sóbria...

sábado, janeiro 27, 2007

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Pequenas coisas que deveríamos saber...


Eu sempre quis escrever sobre homens bons. Pessoas simples e boas, porque é assim que as pessoas são.

Como contar ao mundo uma história banal, ordinária mesmo, e ressaltar a bondade genuína que é feita a cada minuto, a cada segundo?

Como mostrar ao mundo que a bondade é pra ser banal, e não pra se destacar, como se fôssemos todos Raskolnikov e destruir fosse nossa sina?

A despeito de nossas minúsculas mesquinharias e vilanias diárias, somos bons. Em essência.

Coisas bobas, que fazemos no automático, como “Obrigado”, “Pode passar”; coisas grandes, que fazemos pensadas; ou tão impulsivamente porque não nos cabem mais, “Eu te amo”, “Quer morar comigo?”, “Não se preocupe, eu estou aqui”; mudam vidas, mudam vidas inteiras, gerações subsequentes.

Salvamos vidas ao sorrir a um desconhecido pela janela do ônibus, ao devolver uma bola que saiu do campo de pelada, ao avisar que alguma coisa caiu do bolso de alguém.

Somos heróis em nossa banalidade, porque nos reconectamos aos nossos iguais; os outros humanos; em cada gesto que sequer consideramos mais que nosso, em cada olhar cruzado ao acaso, em todo o espaço que dividimos.

Devíamos saber disso. Todo o tempo.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Como querer Caetanear...


Como sabem os mais íntimos, estou envolvida, há cerca de 3 anos, em um projeto que adapta um conto de Guimarães Rosa para o teatro. O convite veio de um grande amigo e parceiro, músico, idealizador do trabalho, e que não tem seu nome citado aqui, porque não sei se ele gostaria. Anyway... Como desde Novembro passado, as coisas se desenrolaram assustadoramente rápidas no sentido de concretizar o, antes, projeto, ontem foi nosso primeiro ensaio.
Não vou nem começar a descrever como este primeiro ensaio me deixou otimista em relação ao que vem por aí. Por incrível que pareça, não tenho as palavras pra isso...

Mas algo me deixou imensamente tensa e maravilhada neste processo.

Estou experimentando coisas novas, entre elas, letrar músicas. Isso já tinha sido ensaiado há alguns (muitos) anos com Clarice Assad (amiga amada, com apartamento vitalício no meu coração, e uma pianista, cantora e compositora impressionante, de nível histórico!!! www.clariceassad.com), e no espetáculo Patativa do Assaré, cuja dramaturgia tive o prazer (e alguma dor...) de assinar.
Escrever nunca foi difícil pra mim, não porque seja um gênio, mas porque realmente não tenho apego ao que escrevo. Se for ruim, é lixo mesmo, sem misericórdia! E suporto bem críticas negativas, pelo mesmo motivo: desapego.

Desde que comecei a compor letras, tudo mudou.

As letras das músicas são o meu inferno. Nunca, repito, nunca, em toda a minha vida, tinha ficado travada durante (embasbaquem-se!) 3 horas por causa de UMA palavra! Pois fiquei, no domingo último...

E ontem... Ah, ontem! Eu queria que todos amassem o que eu tinha feito, quase tive um enfarte ao mostrar a primeira letra! E a minha cabeça rodava, já pensando em como justificar aquela bosta, se fosse uma bosta...

Ok, não foi. Dei sorte. Fiuuu...

Este foi o inferno. E são 18 músicas! Se eu não morrer até a estréia, lá no fundo, bem no íntimo, me sentirei um Caetano...

A maravilha foi ver uma música ir acontecendo.

No princípio eram as trevas, uma melodia linda e uma letrinha assim-assim... De repente, entra um piano, vozes, um violão, uma percussão, um primeiro arranjo e... TÁ-DÁ!!! Surge uma música de verdade! Juro pra vocês, me dei tapinhas nas costas! Internamente, é claro...

E depois fiquei humilde de novo...

UPDATE!!! Como eu acabei de ser autorizada, o nome do CARA (assim, maiúsculo mesmo!) que me fez esse convite tão fantástico é Alexandre Elias. Guardem!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Aforismos


1. Viver é muito perigoso.
2. Toda saudade é uma espécie de velhice.
3. Deus existe mesmo quando não há. Mas o demônio não precisa de existir para haver.
4. Viver é um descuido prosseguido.
5. Vingar, digo ao senhor: é lamber, frio, o que o outro cozinhou quente demais.
6. Sertão é o sozinho.
7. Para as coisas que há de pior , a gente não alcança fechar as portas.
8. Vivendo, se aprende; mas o que se aprende, mais, é só a fazer outras maiores perguntas.
9. Amor só mente para dizer maior verdade.
10. Deus, se vier, que venha armado.


(João Guimarães Rosa)

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Olha só....


O último post ficou por duas "IA":


teimosia: uma amiga que amo muito pediu pra que eu tirasse. Não tirei. De teimosia.


poesia: vamos combinar que tá liiiindo...



Tenho dito.