quinta-feira, julho 12, 2007

Para o alto e avante!


Todo mundo tem morcegos no sótão. Alguns chamam de esqueleto no armário, outros, de histórias mal-resolvidas.

Eu chamo de morcegos no sótão.

Vivem no escuro.

São feios, cegos, cabeludos, roubam sangue e transmitem raiva: a definição exata de tudo aquilo que a gente esconde bem no escondido, pra não ter que mexer, e rezando pra morrer antes de tudo vir à tona.

Meus morcegos são emocionais. E de vez em quando, dão uma flapeada pelo sótão, só pra dizer que estão lá...

Já há alguns anos, quando finalmente me convenci que tinha que crescer e guardar os meus sweet seventeen na memória, comecei um processo de limpeza do sótão. (Não se enganem, é ingrato, não termina nunca!)

A gente começa pelos maiores, os mais aparentes.

Mãe de Freud, infância (super-estimada em sua nostalgia, subestimada em sua violência emocional), adolescência, claustrofobia, a tendência inexorável às profundezas da depressão.

Depois, precisando, pede ajuda aos desratizadores: terapia, fluoxetina, mãe!, amigos.

Funciona.

O meu sótão tem um hall de entrada que é uma beleza! Parece até o foyer do Sheraton!

Mas é mentira.

Sobram alguns morcegos. Pequenos. Sub-reptícios. Dolorosos.

Ficam escondidos nos cantinhos mais remotos, só esperando que a gente passe por lá. Voam no nosso pescoço e sugam toda a energia de vida que temos.

Estou no meio de uma limpeza das boas. Acabei de encontrar um ninho, cheio de morceguinhos pendurados de cabeça pra baixo. Morcegos, aliás, que não são só meus; são divididos, compartilhados.

Morcegos que vivem aqui dentro e acolá dentro também.

Talvez seja um dos processos de desinfecção mais difíceis que encontrei na vidinha.

O que me leva adiante; ao alto e avante; é a certeza férrea de que ficaremos bem.

Depois de tudo, ficaremos todos bem.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu até posso conviver com um sótão que eu visite de vez em quando, faça uma geral, expulse alguns, libertá-los até. É bem melhor do que o ranço seventeen colado num ideal mental atrofiado, ainda animando a uma arrogância perfeccionista e, portanto, de inconsequentes absurdos que esse tipo de emoção acarreta. Esses morcegos são dinossauricos, impertinentes, fora do tom.
Yer uma caverna para limpar eventualmente, trás para fora o enxofre passado. Renova tudo. Antes o sótão do que o retardo seventeen - considerando não ter seventeen há muito tempo.
Beijukas e sempre, obrigada pelo estímulo à reflexão na bat caverna.

Anônimo disse...

também estive matando alguns dos grandes nos últimos tempos, mas se morcegos hibernassem, eu diria que os meus estão o fazendo atualmente.
sabe-se lá até quando durará essa tranquilidade, nunca se sabe, muitas das vezes somos pegos desprevinidos.

mas sim Evelyn, todos ficarão bem, tudo sempre fica (mesmo quando não parece estar).

não espero que você consiga matar todos os morcegos de seu sótão (não dá né?), mas sim que consiga trancafiá-los por lá.

beijos e bom final de semana, pessoa super fofa.

Anônimo disse...

ADORO!!!!
=)