quinta-feira, junho 21, 2007

Não pega nada.


Há dois ou três anos, estava eu na fila do raio-x do Aeroporto de Brasília, embarcando pra casa, depois de uma longa e tenebrosa viagem pelo Norte (detalhes importantes, porque demonstram, principalmente aos que me conhecem, meu estado de espírito: detesto fila de aeroporto, detesto Brasília, não sou muito fã do Norte e estava numa exaustão de prisioneiro russo na Sibéria!), quando um senhor, de pasta 007 num carrinho, atropela a fila inteira e tenta entrar na sala de embarque sem submeter seus pertences à esteirinha do raio-x.

A inspetora de segurança, é claro, interrompeu o caminho tão direto desse nosso amigo, informando-o, gentilmente, de seu lapso em ser igual a todos naquela fila desgraçada.

Eis que, para nenhuma surpresa dos espectadores, o homem segura a lapela do paletó, na qual ostentava um broche do Legislativo e dispara à mocinha:

"- Você deve ser nova aqui!
- Realmente, senhor, por que?
- Porque você não sabe com quem está falando!"

(Minha mãe sempre me diz pra controlar meu gênio, ser mais conseqüente, que um dia posso acabar presa ou morta... Não consegui...)

O sangue subiu, amigos, e dadas as condições já anteriormente expostas de temperatura e pressão, desfiei uma série de verdades patrióticas, embora extremamente deselegantes, no que fui acompanhada pelos companheiros de fila.

Disse, em termos um tanto mais reles, que ninguém sabia quem ele era, porque moços como ele insistem em não mostrar a cara nos momentos mais relevantes. Deixei claro quem pagava seu salário de deputado, senador ou equivalente parasita. Falei que líderes têm a obrigação do exemplo e diante daquela atitude, pobre país o nosso. E que vergonha na cara não é prerrogativa do povo e, principalmente, não é item opcional.

Quase fui presa. E seria, de verdade, se não fosse pelos companheiros de fila, irmãos de indignação, que impediram o parlamentar de prestar queixa por desacato e o vaiaram até que desaparecesse em uma salinha.

Eu seria presa.

Diferente de Pimenta Neves, Renan Calheiros ou José Dirceu.

Seria presa por desacato.

Diferente de Epitácio Cafeteira, Romeu Tuma ou Roberto Jefferson.

Eu sofreria as consequências.

Não Álvaro Lins, a máfia do bingo ou Vavá, o primeiro-irmão.

A adolescência desse país é espantosa. Pode-se tudo, não se responde por nada.

Talvez por roubar um pacote de manteiga no mercado. Isso sim, dá três anos de cadeia.
Ou denunciar o ministro da Fazenda. Isso dá quebra de sigilo bancário.
Ou expor a corrupção do governo estadual, Dinastia Garotinhos. Isso dá exílio.

Mas o resto, não. O desdém, a soberba, a ganância, o roubo, o assassinato (identificados como pecados mortais nas três religiões principais deste vasto mundo!), isso não.

Fiquem tranquilos.

Não dá nada.



PS1: Os textos políticos, dos quais alguns blogfriends são fãs, são intermitentes. Ando muito pessoal, amados.

PS2: Deus abençoe a Internet. Parafraseando o deputado Roberto Freire: "Vamos parar com a censura, antes que seja Chávez!"

segunda-feira, junho 18, 2007

Any given Monday...


As gentes andam por aí e, tum!, sem querer tropeçam num amor...

Amor pessoa, amor coisa, amor trabalho, amor bicho, enfim, um amorzinho solto any given day.

Eu sou cheia dos tropeços.

Cada dia tem pedras no meio do caminho (essa gafanhotinha e o mentor Paulo, me trazendo Carlos Drummond, coração e cabeça...), cascalho, brita...

Não pulo, não salto, não desvio.

E lá vou eu tropeçando, ralando o joelho, aquele ralado ardido que mistura a areia com um quase sangue pontilhado...

Demora dias, semanas, pra parar de arder.

As gentes têm que ter medo pra viver sem ralado...

Eu não tenho.

sábado, junho 09, 2007

Abre-te, Sésamo!


E eu lá, na mão da menina; naquela mãozinha que agora não sabe o que fazer comigo...

Eu, boba, entregue; e pra ela, tudo; tudo, tudo novo, tudo novidade.

Seremos outras daqui em diante. Teremos pesos, olhares, toques e esbarrares diferentes.

Indefinidos.

E eu chovendo, ou fazendo sol, porque já vi, já vivi, já passei, já doí e não doí, já me faltou o ar; vivendo mais um dia, mais um passo.

E ela procurando um lugarzinho pra mim, um outro, um que não era, porque eu mudei o que era.

E eu aqui, bagunçando a minha vida, (a dela, um pouquinho), como bagunço meu quarto, como bagunço as gavetas, pra que tudo se perca um tanto; pra que eu ache tudo depois.